Durante muito tempo, pensava-se que a pele atuava apenas como uma barreira protetora contra o ambiente. No entanto, várias pesquisas revelaram um papel muito mais complexo: a pele também é um órgão endócrino, capaz de produzir, liberar e responder a uma ampla gama de hormonas e neurotransmissores. Essa abordagem abre uma nova janela sobre como a nutrição, as hormonas e a saúde da pele estão profundamente conectadas.

A pele como um sistema endócrino completo

A pele não reage apenas às hormonas produzidas noutras partes do corpo; ela também sintetiza as suas próprias hormonas. Ela contém versões locais dos principais eixos endócrinos: o hipotálamo-hipófise-adrenal, o hipotálamo-hipófise-tiroide e outros. Graças a eles, ela produz compostos como vitamina D, esteróides sexuais, retinóides, melanocortinas, opióides e muitos outros.

As suas células principais — queratinócitos, sebócitos, melanócitos e fibroblastos — fabricam ou respondem a moléculas hormonais que influenciam a imunidade, a regeneração, o crescimento do cabelo, a pigmentação e o envelhecimento cutâneo.

Receptores hormonais na pele: uma rede de comunicação

A pele possui receptores para quase todas as hormonas conhecidas:

  • Corticotropina (CRH): coordena a resposta ao stress local e pode influenciar doenças como acne ou psoríase.
  • Hormonas da tiróide: regulam a proliferação de queratinócitos, a transpiração e a qualidade do cabelo. Os desequilíbrios da tiróide refletem-se diretamente na pele seca ou oleosa.
  • Hormonas sexuais (androgénios, estrogénios, progesterona): modulam a produção de sebo, o crescimento dos pêlos e a elasticidade. O seu desequilíbrio está implicado na acne, no hirsutismo e na alopecia.
  • Vitamina D: sintetizada pelos queratinócitos após a exposição solar, regula a renovação epidérmica e a função imunitária, além de proteger contra o cancro da pele.
  • Melatonina e serotonina: formam um sistema antioxidante e anti-inflamatório que protege a pele do envelhecimento e da radiação UV.
  • Endocanabinóides: reduzem a inflamação e podem ter aplicações na dermatite e na psoríase.

A pele também produz hormonas

Entre as principais substâncias sintetizadas localmente encontram-se:

  • Vitamina D3, a partir do colesterol e da radiação UVB.
  • Esteróides como cortisol, andrógenos e estrógenos, produzidos nos sebócitos e fibroblastos.
  • Proopiomelanocortina (POMC), precursora das melanocortinas e endorfinas que regulam a pigmentação, imunidade e bem-estar cutâneo.
  • Catecolaminas (adrenalina e noradrenalina), que modulam o fluxo sanguíneo e a resposta ao stress.
  • Fatores de crescimento como o IGF-1, essenciais para a reparação tecidual e o ciclo capilar.

Implicações clínicas e terapêuticas

Entender a pele como um órgão endócrino tem grandes implicações. Por exemplo:

  • Os agonistas do receptor de melanocortina estão a ser estudados como tratamento para psoríase, porfirias e sarcoidose.
  • Os canabinóides tópicos podem melhorar a acne ou a inflamação.
  • O uso de vitamina D tópica ou transdérmica está a ser investigado para prevenir o envelhecimento e tratar doenças oculares.
  • Os antagonistas da prolactina ou CRH podem beneficiar pacientes com psoríase ou lúpus cutâneo.

Conclusão: pele, hormonas e nutrição, um eixo inseparável

A pele não apenas reflete a nossa saúde hormonal, mas também participa ativamente na sua regulação. Esta descoberta redefine a dermatologia e abre novas perspetivas para a nutrição estética e funcional. Uma dieta rica em precursores hormonais naturais (como ácidos gordos essenciais, zinco, vitamina D e antioxidantes) pode apoiar a função endócrina cutânea e melhorar a sua aparência, elasticidade e capacidade de reparação.

A investigação sobre a pele como órgão endócrino está apenas a começar, mas já é claro que o seu equilíbrio hormonal — interno e local — é fundamental para uma pele saudável, luminosa e resistente ao passar do tempo.

Disponível em: Datta D, Madke B, Das A. Skin as an endocrine organ: A narrative review. Indian J Dermatol Venereol Leprol 2022;88:590-7.