Dormir não é apenas descansar: é reiniciar o corpo. É o momento em que as nossas células se reparam, o cérebro elimina as toxinas e as memórias são consolidadas. Mas quando este processo falha, não é apenas a fadiga que se instala. Desencadeia uma tempestade metabólica que danifica todo o corpo, desde o coração até ao cérebro.
Uma análise científica recente publicada na revista Science Signaling torna-o claro: a privação de sono comporta-se como uma doença metabólica em si mesma.
O corpo entra em modo de poupança: o que acontece quando não dormimos?
A falta de uma noite de sono não afecta apenas o humor ou o desempenho no dia seguinte. A nível celular, acontece algo muito mais profundo: o corpo redirecciona a energia para funções essenciais à sobrevivência, ignorando outras como a memória ou a aprendizagem.
Isto perturba o equilíbrio energético do organismo (homeostase) e provoca um efeito dominó metabólico:
- má eliminação da glicose
- desequilíbrio hormonal (fome e saciedade)
- Inflamação crónica
- stress oxidativo
Tudo isto aumenta o risco de obesidade, diabetes de tipo 2 e doenças cardiovasculares.
Cérebro cansado, cérebro vulnerável
A falta de sono afecta diretamente o cérebro. Enquanto dormimos, o cérebro “limpa” as toxinas e organiza a memória. A falta de sono perturba esta limpeza, dificulta a criação de novas sinapses (ligações neuronais) e favorece processos semelhantes aos de doenças como a doença de Alzheimer ou a doença de Parkinson.
De facto, muitos distúrbios do sono – como a apneia ou a insónia REM – surgem antes do aparecimento das doenças neurodegenerativas. A deterioração metabólica observada após a privação de sono é muito semelhante à destas patologias.
Sono perdido? Danos acumulados
Os efeitos da insónia não são compensados pelo facto de se dormir mais um dia. Os danos podem ser duradouros e mesmo irreversíveis. Estudos humanos mostram que duas noites de recuperação não restauram totalmente a memória e a conetividade cerebral afectadas por uma única noite de insónia.
Além disso, o corpo não elimina corretamente as toxinas acumuladas pela falta de sono, o que aumenta o risco a longo prazo de deterioração neurológica e metabólica.
Dormir pouco: um novo fator de risco metabólico?
As provas são claras: a falta de sono deve ser entendida como um fator de risco metabólico. Quando privado de descanso, o organismo entra em modo de sobrevivência: queima mal a energia, acumula gordura e desequilibra processos essenciais. A longo prazo, esta situação pode levar ao desenvolvimento da obesidade, da diabetes de tipo 2 e de doenças neurodegenerativas.
Dormir bem não é um luxo, é uma necessidade fisiológica que protege o metabolismo e a mente.
Conclusões:
Osono é essencial para o equilíbrio metabólico: o sono regula a energia, repara as células e limpa as toxinas do cérebro.
A insónia perturba todo o organismo, afectandotudo, desde a eliminação da glicose até à formação da memória.
A falta de sono provoca um stress metabólico semelhante ao de doenças como a doença de Alzheimer e a doença de Parkinson.
O sono não é facilmente recuperado: uma única noite de insónia pode ter efeitos duradouros na memória e no metabolismo.
A insónia é um fator de desencadeamento da obesidade, da diabetes e das doenças cardiovasculares.
A ciência começa a considerar a privação de sono como uma doença metabólica por direito próprio.
Disponível em : DOI: 10.1126/scisignal.adp9358